Sugestões para uma festa de Natal mais tranquila

Episódio #8
Especial de Natal: sugestões para uma festa mais tranquila.

Quando abri uma caixinha de perguntas no Instagram sobre o Natal as perguntas foram muitas. Como planear a ceia de Natal para não acabar stressada, como tornar as receitas mais saudáveis, como atravessar esta fase com menos desperdício? Neste episódio respondo a estas e muitas outras perguntas para que todos atravessemos a quadra festiva de 2020 um bocadinho mais tranquilos.

Porque as melhores conversas acontecem à mesa, vamos sentar-nos a conversar? Estão convidados e se quiserem tragam um amigo também.

Show notes

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  1. Planear a ceia

Esta é uma pergunta importante porque o planeamento depende de vários factores. Quantas pessoas vão receber, que tipo de comida querem preparar e até mesmo as condições das vossas cozinhas. Se, por exemplo, têm limitações na vossa cozinha, técnicas ou de espaço ou até limitações nas compras, convém planear.

Nestas situações, a primeira coisa que eu farias seria sentar-me com um papel e uma caneta, juntar a família e decidir o que vai ser a ceia de Natal. Isto é importante para ouvirmos cada um dos membros da família para percebermos o que é para elas importante nestas épocas festivas. Cada um de nós tem expectativas e prioridades diferentes. Saber isso de antemão ajuda-nos a preparar tudo com tempo e calma, para não estarmos um dia inteiro atarefados a cozinhar e depois estarmos 15 minutos apenas a comer, e nem toda a gente ficar satisfeito, podendo criar mau estar.

Para mim, a festa do Natal é, acima de tudo, uma festa de família, é para passarmos tempos juntos. Se a pessoa designada a cozinhar estiver o tempo todo na cozinha e se não estiver a usufruir nem deixar os outros participar, ninguém vai ter uma boa experiência.

Por isso, o que eu faria seria planear, juntamente com a família, o que vai ser a ceia de Natal e o almoço do dia de Natal. 

Tendo feito isto é hora de começar a planear para trás. Ou seja, o que é que é que precisa de estar pronto uma ou 2 horas antes de nos sentarmos para comer. Isto pode ajudar-vos a pré-preparar as coisas quando têm tempo.

Por exemplo, se a aletria é uma sobremesa que gostam de ter no Natal, podem fazê-la no dia anterior e guardá-la no frigorífico. Fica óptima na mesma e não precisa de ser feita em cima da hora, a não ser que gostem de a comer quente. 


2. Preparar com antecedência


Existem várias coisas que podem preparar um dia ou até mesmo dois dias antes, para que no dia da ceia de Natal estejam mais tranquilos.

Se fizerem batatas cozidas estas podem ser descascadas no dia anterior, colocando-as num recipiente tapado com água e reservadas no frigorífico. As couves podem ser lavadas e pré-preparadas e no dia da ceia é só cozer. As sobremesas também podem ser feitas no dia anterior.


3. Menos desperdício 


Pegando no ponto das sobremesas, uma das coisas que me pediram foram dicas para um Natal com menos desperdício. Esta é uma questão fundamental. Quando se celebra um Natal com muitas pessoas faz-se muita comida, muitas entradas, muitas sobremesas. Toda a gente come um bocadinho e mesmo assim sobra imenso. Se estivermos a falar de um agregado familiar de 4 pessoas não é viável estarmos a preparar 5 tipos de sobremesas diferentes, 5 tipos de entradas diferentes… porque vai sobrar muita comida. Se quiserem mesmo ter estas coisas na mesa, podem sempre fazer meias receitas ou até mesmo 1/4 de receitas. Num agregado familiar mais pequeno, fazer tantas sobremesas e entradas vai resultar em muito desperdício alimentar e em muito stress para quem estiver a cozinhar isto tudo. 

Por isso, planear com antecedência e ter noção de que se forem poucas pessoas convém escolher os favoritos. Por exemplo, uma ou duas sobremesas e fazer as meias doses. Ou então podem fazer e trocar ou partilhar com amigos, vizinhos e familiares. 

Eu começaria por planear a ceia para o dia 24 e caminhar para trás. Isto é, se eu quero ter o jantar na mesa às 19h, penso que posso ter a aletria feita no dia anterior e assim servir logo. Posso ter o bacalhau demolhado. E por falar em bacalhau, é importante lembrar que não se come bacalhau na ceia de Natal em todo o lado. Por essa mesma razão não estou aqui a dar receitas específicas. Acho que é importante cada um fazer aquilo que faz mais sentido dentro daquilo que é a sua tradição de Natal. 

Uma boa dica: lembro que o bolo-rei pode ser congelado e descongelado mais tarde quando precisarem e vos apetecer. Fica óptimo aquecido na torradeira e barrado com um bocadinho de manteiga. 


4. Fazer de raiz

Outra coisa que gostava de mencionar é que não precisam de fazer tudo de raiz. Sei que pode ser um pouco ofensivo para a vossa auto-imagem culinária, mas quando estamos a fazer isto sozinhos é muito difícil manter as expectativas a planear uma ceia para 20 pessoas ou para 4 pessoas. Não é viável, principalmente se estiverem a trabalhar, por exemplo, até à manhã de dia 24, estarem a demolhar o vosso próprio bacalhau, a preparar não sei quantas sobremesas, preparar a mesa e decorações. Fazer tudo isto é stressante, principalmente se tiverem filhos pequenos. 

Por isso, pensem como é que podem facilitar a vossa vida. Se comprar bacalhau já demolhado for uma opção, não se preocupem com isso e façam-no. Se até querem demolhar o vosso próprio bacalhau, mas não querem estar a fazer as rabanadas, então apoiem um negócio local e comprem lá as rabanadas. 

Acima de tudo, facilitem a vossa vida. Seja com trocas com amigos e familiares, seja apoiando um comércio local.


5. Gerir expectativas

Eu sou fã de fazer tudo em casa, já me conhecem e sabem que adoro as coisas caseiras, mas também sou muito fã de sanidade e saúde mental. Não acho que seja favorável atravessar uma época festiva absolutamente desorganizados porque queremos ter tudo perfeito. E por falar nisso, como já vos falei no início, a gestão de expectativas é extremamente importante. Para podermos usufruir temos que deixar as pessoas à nossa volta participar. E participar à maneira delas. Se temos filhos pequenos, há coisas que eles não vão conseguir fazer, mas podemos deixá-los fazer algumas decorações para a mesa de Natal. Se os nossos parceiros não se ajeitam tão bem na cozinha podem preparar a mesa, escolher o vinho ou ligar aos amigos para desejar boas festas. Há imensas coisas em que toda a gente pode participar. Não tem tudo que ficar nas costas da mesma pessoa. 

Eu sou a primeira pessoa a levantar a mão com culpa. A minha linguagem de amor é a fazer tudo por toda a gente. Depois chego ao fim cansada e frustrada e não consigo usufruir. Fico zangada porque não correu como eu queria… e se há coisa que os 30 anos me estão a ensinar é isto, aprender a delegar, a confiar e aprender que se não ficar perfeito, vai ficar bom na mesma. E toda a gente vai poder participar um bocadinho e isso é importante. 

Eu sei, principalmente com crianças pequenas, queremos proporcionar o melhor momento possível e isso é muita pressão para nós. Podemos estar 5 horas na cozinha a fazer todos os doces da nossa infância, a fazer todas as decorações, tudo. E depois quando os miúdos chegam à mesa começam a dizer que não gostam disto e daquilo. De repente todo o nosso esforço foi em vão. Se estamos a preparar todas estas coisas baseadas no querer agradar a alguém, se não correspondermos às expectativas, é difícil. Eu já passei por isto noutras ocasiões e sei como é difícil. Como passar três ou 4 horas a fazer um estufado e quando chegamos à mesa, se for um bocadinho mais tarde do que o habitual, a nossa filha já não terá o mesmo apetite e vai comer muito menos. 

Podemos fazer o essencial para estarmos bem, tranquilos e para usufruirmos à nossa maneira. Eu acho que se os miúdos nos virem bem e felizes, isso vai ser a memória deles da época festiva. Muito mais do que toda a comida, os miúdos terem os pais disponíveis tranquilos e felizes, são as melhores memórias. Essas são as memórias que mais guardo. Também tenho memórias das refeições, mas muito mais destas. São as vivências que mais ficam guardadas.

Por isso, uma dica que vos dou é focar naquilo que podemos controlar. Eu sei que neste ano que foi especialmente desafiante, mas concentrarmo-nos naquilo que verdadeiramente importa e que conseguimos controlar é importante. Nós não conseguimos controlar, se calhar, se podemos ou não estar com a nossa família se forem grupo de risco. Mas se calhar podemos concentrarmo-nos no facto de este ano podermos ter um Natal diferente, em que podemos fazer coisas novas, como não comer bacalhau cozido, mas assado no forno, por exemplo. Ou fazer outra coisa qualquer que sempre quisemos experimentar, mas que nunca foi possível porque a tradição familiar não era essa. Podemos sempre criar novas tradições e experimentar. 

6. Receitas mais saudáveis

Uma das coisas que me perguntaram também foi sobre receitas mais saudáveis para esta quadra festiva. A verdade é que tenho sentimentos mistos sobre esta questão. Podemos sempre tornar as receitas mais saudáveis. Mas eu penso que existe um equilíbrio entre o que fazemos no dia-a-dia e o tipo de alimentação que fazemos e aquilo que são os sabores tradicionais e que são de facto uma experiência e que nos levam até à infância. É possível fazer rabanadas no forno e eu recentemente, desenvolvi uma receita para a Moagem Carlos Valente, para um projecto maravilhoso que eles criaram, um kit para fazer o pão e as rabanadas em casa, bolo-rei, bolachinhas… foi um projecto que adorei fazer. As rabanadas feitas no forno, foram, honestamente as que me deram mais trabalho a fazer porque para chegar à textura e consistência das rabanadas normais foram precisos muitos testes. A questão é esta, é possível fazer receitas mais saudáveis, mas as receitas tradicionais têm o seu lugar e eu honestamente prefiro receitas como as nossas avós faziam e poder experienciar esta quadra festiva com toda a nostalgia a que tenho direito. Depois, durante o resto do ano como de forma equilibrada, movo-me, faço caminhadas ou corridas, umas aulas de taekwondo… fazer as coisas que eu gosto de fazer sem deixar que a mentalidade de dieta controle a minha vida e as minhas experiências. Claro que é completamente diferente se tiverem indicações médicas que não podem comer determinadas coisas porque vos vai fazer mal ou agravar problemas existentes. Não vale a pena ter ataques cardíacos por causa de umas rabanadas, okay? 

A vida é toda feita de equilíbrio. Se somos pessoas saudáveis, temos uma alimentação equilibrada e temos descanso e movimento na nossa vida, não é por comermos duas ou 3 rabanadas, durante esta quadra festiva que depois não é possível equilibrar. Atenção, eu não sou nutricionista, nem dietista, alguém mais qualificado para falar convosco sobre isso, mas acho que muitas pessoas privam-se de sentir alegria por causa da culpa da dieta. E acho que não devemos encarar o Natal com a culpa do “ah não posso comer isto que engorda”. Havendo equilibro na vida é possível experienciar e usufruir de tudo. Eu tenho uma regra pessoal que é se me apetece e souber bem eu como. Não interessa quem fez ou quantas horas demorou a fazer. Há mais oportunidades para comer na vida. 

Nesta questão das receitas mais saudáveis, sim é possível fazer rabanadas no forno, cortar no açúcar … É possível transformar e adaptar sem complicar.


Uma nota final

Esta quadra é de celebração e acho que todos nós precisamos de um bocadinho de alegria depois do ano que tivemos, uns com desafios maiores do que outros, mas acho que pode ser uma época muito boa para darem, para estarem presentes. Para ligarmos aos amigos com quem já não falamos há muito tempo. Para criarmos memórias em família. Para deixarmos os miúdos porem as mãos na massa mesmo que não fique perfeito ou o ideal. As memórias que se podem criar nesta altura não têm preço. Por isso, para mim, é uma época para ser abraçada com todo o carinho e dedicação, acima de tudo, para ser usufruída. 


Espero que fiquem bem. Espero que tenham uma época festiva feliz e que entrem em 2021 com o pé direito.

O próximo episódio será já em 2021.

Até já e um abraço.