Alimentação saudável com Rute Domingues
Episódio #13
Alimentação saudável - Uma conversa com a nutricionista Rute Domingues
O Podcast Marinar está de volta depois de uma pausa muito necessária.
Neste episódio converso com a Rute Domingues, nutricionista baseada em Aveiro e que se auto-define como “uma nutricionista contra dietas”. O seu trabalho tem como foco principal o comportamento alimentar bem como o processo de reeducação alimentar. A sua missão tem sido a de ajudar os seus clientes a encontrar o equilíbrio entre a saúde e o prazer de comer.
Aqui falamos sobre as diferentes vertentes da alimentação saudável e como as dietas e ciclos de privação podem ser prejudiciais ao estabelecimento de uma relação equilibrada com a comida. Falamos também de fome psicológica, auto-estima, relação com a comida e métricas de sucesso compreensivas e alternativas à medição do peso corporal.
Por fim, damos sugestões de como organizar e planear refeições de forma a respeitar o apetite de todos os membros da família.
Esta foi uma conversa importante e honesta e esperamos que te seja útil.
Alimentação saudável
Quando se fala de alimentação precisamos ter consciência das funções que a alimentação tem na nossa vida e a função que está mais presente na vida das pessoas é a função nutritiva - nós comemos para ter energia e nutrientes para sobreviver.
Mas não podemos esquecer que não é a única. A alimentação também tem uma função de prazer, um lado social. Que é a que nos junta à mesa para rituais e celebrações culturais, a saborear pratos típicos regionais e que é extremamente relevante. E ao ignorar estas funções, estamos a perder muito na alimentação. Até porque estas funções não deixam nunca de estar presentes no nosso dia-a-dia: haverão sempre eventos familiares, saídas com amigos e momentos de prazer com a alimentação.
Para a Rute, a alimentação saudável é precisamente este equilíbrio entre nutrir o corpo - com a vertente nutritiva da alimentação - e nutrir a alma, em que encaixa a vertente hedónica e social da alimentação. E dentro da alimentação saudável, na sua perspectiva, estão 8 pilares fundamentais:
Qualidade;
Quantidade;
Fome psicológica;
Relação com a comida;
Autoconhecimento / Motivação;
Autoestima / Autocuidado;
Atitude positiva;
Organização.
Ao longo do episódio a Rute desenvolve cada um destes tópicos e explica como se articulam num quadro bonito que é a alimentação saudável.
Falamos de como a fome psicológica é um sintoma e uma ferramenta muito útil para percebermos como está o nosso corpo e as nossas emoções. De como aprender a geri-la de forma construtiva, com empatia e curiosidade.
Abordamos a questão da motivação e de como a falta dela tem sido um dos pontos de culpabilização usados pela cultura da dieta para justificar o facto de uma dieta não funcionar. A Rute explica que a motivação é volátil, que é influenciada por várias circunstâncias e que está muito apoiada no autoconhecimento. Que respeitar determinados limites e pedidos individuais conforme as experiências de quem vem à consulta é uma das repostas para o sucesso deste processo transformativo e não através de culpabilização.
Planear refeições para uma alimentação saudável em família
Falamos também de que forma podemos organizar a nossa cozinha e planear as nossas refeições de forma a criar as condições para uma alimentação mais saudável.
Deixamos então três sugestões, que podem ser feitas individualmente ou em conjunto, e que poderão ser aplicadas gradualmente e sem pressão.
- Alimentação democrática na família -
Uma das sugestões passa por fazer um encontro semanal com a família, à mesa, e de forma democrática, deixar que todos participem nas sugestões de receitas que vão ser feitas ao longo da semana. E claro, é muito importante incluir as crianças neste planeamento - a partir dos 3/4 anos, na maior parte dos casos, já conseguem participar. Por vezes, em muitas famílias, criam-se acidentalmente hábitos alimentares restritivos, derivados de períodos de selectividade alimentar ou neofobia alimentar nas crianças, o que acaba por limitar muito a variedade. O objectivo principal é que todos os membros tenham a oportunidade de comunicar, sem medo de julgamento, o que gostariam de comer nessa semana, ajustes nas quantidades e variedades, bem como pedidos especiais;
- Preparação das refeições em família -
Convidar todos os membros da família a participar na preparação das refeições. É mais fácil desenvolver o interesse pela alimentação saudável quando se participa na sua preparação, principalmente para as crianças. E é também mais fácil quando todos participam. Para além de alimentar sentimento de comunidade e partilha, criam-se memórias importantes e alivia-se a sobrecarga de trabalho (que muitas vezes é responsabilidade de apenas um dos adultos da casa);
- Preparação de ingredientes-chave -
Uma das formas possíveis de planear refeições é pensar em ingredientes-chave com se fossem blocos de LEGO. Ao ter esses ingredientes preparados e pré-cozinhados, tudo que é preciso fazer é conjugá-los de diferentes formas ao longo da semana para ter sempre refeições variadas. Como quem monta vários objectos com as mesmas peças de LEGO. Um exemplo poderá ser: ter algumas peças de frango e salmão grelhado, ovos cozidos, algumas saladas preparadas, arroz e massas cozidas. Depois, ao conjugar os ingredientes, variar ao longo da semana alternando entre saladas bem recheadas e salteados saborosos. Podem-se variar os molhos, temperos e formas de aquecer, e ao fazê-lo, ter sempre refeições diferentes ao longo da semana, com ingredientes semelhantes.
Que bom que foi ter a Rute no podcast e será sem dúvida uma experiência a repetir. Adorei conversar com ela sobre as várias vertentes de uma alimentação saudável e compreender de forma mais aprofundada o porquê de as dietas restritivas nos fazerem tão mal.
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Obrigada por estares desse lado. Um abraço e até já :)